Ainda no chão, subitamente tudo aquilo que havia resultado de bom daquela noite havia desaparecido, substituído por um novo aperto no coração, agora muito mais forte que o anterior, se levantando rapidamente do chão, não com receio de ser visto pois isso não mais fazia parte de seus pensamentos, mas correndo para retornar o mais rápido possível ao local que novamente parecia dominá-lo, agora por algo que provavelmente não seria nada bom, a flloresta...
Com todo seu porte atlético resistência que poucos se dão ao luxo de possuir, correu de volta a floresta e assim como anteriormente, possuído por um sentimento claustrofóbico causado pelo quarto do hotel, mal parecia se abalar com o esforço extremo que fazia, nem ao menos estava ofegante, porém, completamente cego, não como na escuridão total da noite que havia passado floresta adentro, pois o sol estava estampado ao alto no já avançado deflorar do dia, mas cego em seu objetivo de retornar àquele lugar percorrendo o caminho que fizera em 20 minutos com na pacifica presença da jovem Camille, em espaço de tempo tão curto que o ponteiro do relógio mal se moveu enquanto possuído pelo tal pressentimento, parando a alguns centímetros da nova folhagem que formava uma linha parecendo que fora hermeticamente traçada para separar a floresta de todo o resto do local, exitando por alguns segundos antes que a coragem lhe viesse para atravessá-la.
Cada passo que dava para dentro daquele local, mais atormentado pela agonia de que algo iria acontecer ficava quase chegando ao ponto de retornar se não fosse pela sua natureza talvez motivada, pela coragem, curiosidade ou apenas pela imprudência o impedisse de desistir seguindo as pegadas que a essa altura estavam quase que completamente escondida, e os traços que acreditava decorrer do caminho que fizera mais cedo.
Foi necessária a mudança da atmosfera do local para que Saraiva percebesse que na verdade, estava perdido sentindo pela primeira vez em muito tempo, medo, evidentemente que não era medo da floresta em si, mas de que aquele sentimento que a essa altura já o sufocava, se recusasse a sumir. Ainda que fisicamente intacto, ele já estava psicologicamente esgotado, sem ter mais o que fazer senão tentar recobrar sua sanidade através da concentração, Saraiva novamente se ajoelhou na floresta fechando vagarosamente seus olhos e voltando a se concentrar evidenciando praticamente todo tipo de criatura que o cercava e identificando-as, exceto por uma...
Havia no meio de toda diversidade, uma criatura cuja presença era quase imperceptível e ainda sim, desconhecida a ele demorando um pouco mais do que o normal para perceber exatamente onde ela estava. Mal dando tempo de abrir os olhos, apoiou seu corpo em sua mão direita se levantando com um pulo enquanto iniciava corrida na direção da criatura, completamente concentrado não se deixando perturbar nem mesmo com o bater dos galhos em seu rosto chegando a feri-lo durante o percurso.
Após uma corrida relativamente curta, mas que o custou alguns arranhões sangrando em seu rosto, Saraiva encostou-se a uma arvore enquanto tentava se concentrar novamente naquela criatura, porém agora havia algo estranho, aquela presença não mais parecia ser apenas uma, e sim, várias, algumas dezenas, talvez, centenas. Ainda encontrado na arvore e confuso sem parecer acreditar na sua percepção, com a mão, tirou a folhagem que se encontrava alguns passos a sua frente se deparou com a paisagem mais bela que já havia presenciado, sem nenhuma vegetação exceto pela folhagem morta que cobria o solo, todas as arvores pareciam ter evitado avançar, formando um circulo perfeito com uma pedra de aproximadamente 30 centímetros de altura e uma arvore incrivelmente grande no meio, deveria ter cerca de 10 metros entre as demais arvores e “a arvore” que parecia ter mais de 1.000 anos de idade e um diâmetro de quase 50 metros.
A única coisa mais embriagante do que a beleza daquela paisagem era energia que aquela gigante da natureza passava, uma energia que de tão positiva faria qualquer pessoa esquecer de absolutamente todos os problemas e sentir muito mais viva , capaz de qualquer coisa. Tamanha era a quantidade de energia que ela parecia sugar do solo que fazia os pelos de seu corpo timidamente se arrepiar e com sua percepção perceber todo o caminho que essa energia percorria após ser retirada do solo, subindo através de seu caule, sendo distribuída igualmente para absolutamente todos os galhos até as folhas substituindo quase que imediatamente todas as folhas que dela caiam, por outra... Como mágica... Porém a arvore não era completamente maciça, era evidente rachaduras por toda sua extensão, mas em nada reduzia sua beleza.
Saraiva ainda estava sentado na pedra admirando sua recém descoberta quando percebe uma certa movimentação próxima, como quem inconscientemente procura algo olhou rapidamente para os lados e nada viu voltando sua atenção novamente a arvore, depois de alguns momentos novamente percebe uma movimentação bem próxima dele, olhando agora com um pouco mais de atenção, procurou em todas as direções e nada viu, voltando a olhar para a arvore porém não mais concentrado, mas muito desconfiado do que estava acontecendo até que na terceira vez se levantou da pedra virando e se afastando dela imediatamente como quem procura um flagra, porém assim como nas vezes anteriores nada encontra, exceto por um pequeno pedaço de madeira posicionado próxima a onde sua perna esquerda estava, pedaço esse, que devido ao mapeamento do local que faz naturalmente em todo ambiente que se encontra, tinha certeza que não estava ali quando chegou.
Eu sei que quando cheguei fiquei abismado pela gigante, mas enquanto andava até ela, até me sentar na pedra eu tenho certeza absoluta que não tinha mais nada aqui, exceto por este mar de folhas – Refletiu
Mas esse tronco tem algo diferente, por mais que você possa não ter reparado nele quando cheguei, ele definitivamente tem algo de diferente, ou será que você não está bem por tudo o que passou? Mas afinal porque não estaria? A noite foi maravilhosa com a Camille, única parte realmente estranha foi essa sensação estranha que senti agora pela manhã e por sinal... Cadê essa sensação? Única coisa que estou conseguindo sentir agora é... Isso! As presenças! –Fechando seus olhos e procurando voltar a se concentrar no que estava procurando até sua distração, percebe que logo a sua frente existe uma pequena criatura e que logo atrás dele, outras centenas da mesma criatura ainda desconhecida por ele. Abrindo subitamente seus olhos, assustado estava se virando quando no exato momento, viu aquele pedaço de madeira que estava a sua frente de movimentando quebrando completamente o que iria fazer devolvendo aquela bizarra situação.
VOCÊ! PARE! – Ainda sem acredita no que acabara de ver... – O que é isso? – Percebendo que o susto e o medo que sentia daquela coisa era recíproco.
ESPE...re... Calma... Espere um pouco – Mudando sua entonação.
* Respirando fundo
Calma... – Já em um tom relaxado tentando fazer com que a criatura não fugisse.
A criatura então ficou imóvel a principio, talvez como um mecanismo de defesa contra o possível agressor na esperança de que não o atacasse, mas à medida que Saraiva foi se aproximando, a criatura ainda que desconfiada, pareceu entender de que não se tratava de uma ameaça se arriscando até mesmo a dar alguns passos em direção a ele.
Não fora a toa que ele não percebera antes do que se tratava aquela coisa, nunca havia visto nada parecido antes, talvez apenas em filmes, mas ainda sim nada tão surpreendente e acima de tudo... Real... A criatura era uma arvore, uma arvore pequena, deveria medir no máximo uns vinte centímetros, possuía na sua cabeça ramificações com algumas poucas folhas nela, possua quatro membros, duas pernas e dois braços para não dizer que são apenas galhos, em sua face possuía dois olhos grandes e redondos com uma coloração castanha, porém opaca, ainda com uma protuberância com o que espera ser um nariz, mas de tão bizarra talvez fosse mera irregularidade da arvore, seus braços se é que se pode chamá-los assim eram finos e não apresentava indícios de força física, porém possuía “dedos” relativamente grandes em relação ao resto do corpo e aparentemente afiados... Talvez... Afiados demais até, mas ainda sim continuou se aproximando dela, tão intimamente ligado a natureza ele sabia que aquela criatura não apresentava ameaça imediata a ele, sentindo ser uma criatura pacifica e pelo que parecia, a analise era recíproca.
Se abaixando gradualmente, passou alguns minutos olhando tentando conhecê-la melhor, ainda enquanto olhava mais uma vez sua mão pareceu traí-lo indo em direção a ela, parando a alguns centímetros aguardando por alguma relutância que para sua surpresa não houve alguma prosseguindo então até tocá-la. Parecendo gostar de ser tocada a pequena criatura ficou praticamente imóvel apenas acompanhando a mão de Saraiva com o olhar, aquela interação continuou até o momento em que acidentalmente tocou em seus dedos que realmente eram afiados, perfurando facilmente sua pele, involuntariamente pronunciou um espasmo de dor fazendo com que ela se escondesse atrás da pedra com medo, com receio de que acabasse fugindo, se levantou rapidamente, porém quando iria se dirigir até atrás de pedra percebeu que havia algo estranho, voltando àquela percepção anterior de várias presenças – Se o que não consegui identificar era essa pequena criatura e ela só é uma... Então as outras... – Antes que terminasse de concluir seu pensamento arregalou enchendo seus pulmões com tanto ar que até ele mesmo não sabia que poderia inflar tanto e por fim, ficou tão pálido como nunca antes havia ficado com apenas um pensamento em mente... – Ferrou! – Nesse momento todas as rachaduras da grande arvore começaram a se mover, estavam vivas, aquela pequena criatura não estava só, cada uma daquelas rachaduras eram na verdade uma pequena criatura como aquela, porém haviam não apenas centenas, mas milhares delas impregnadas no tronco daquela poderosa gigante, e pela reação que teve a pouco, absolutamente todas começaram a se voltar contra Saraiva; um ataque era iminente e conseqüentemente fatal.
(Continua...)